nesse sentido, os sebos em que trabalhei ajudavam na montagem dessa 'história da história', porque em sebo sebemos, digo, sabemos que juntas vão as anotações, marcações e elas, as dedicatórias.
um dos enredos que criei na minha cabeça foi o de um casal de namoradas que se separou. uma delas, mônica, foi atrás de se desfazer das lembranças da ex, e isso incluía o livro que dela tinha ganhado. livro literalmente dela, uma vez que era a autora dedicando o livro para a companheira. ludmila. escrevia sobre poesia erótica. eu, lá no sebo, li a dedicatória de ludmila para a namorada mônica, e... bem, se o livro estava lá é porque algo tinha chegado ao fim.
e assim inventei algumas novelas das vidas dos outros para mim.
uma das mais belas cenas nessa ilha de edição que são nossas lembranças, foi a que encontrei em 'canto memorial', um livro onde luciano maia mapeia poeticamente a tragédia de pablo neruda. naquela folha de rosto, estava escrito:
"para a ana e o rubens, com o abraço do luciano maia. 1984".
em seguida, mais à esquerda:
"para outros. 2008".
achei a coisa mais linda essa conversa entre as dedicatórias, essa poesia incluída na percepção sutil desse alguém que surge 24 anos depois.
no futuro, estaria eu mesma participando dessa corrente espontânea de dedicar:
"agora, para o ângelo. 2015".
e o acaso não poderia ter reservado nome melhor a esse livro que eu daria ao meu amigo. ângelo é um ser fascinado pela memória, intrigado em saber o que é isso da gente que lembra e não lembra, e porque, quando e como. em uma de nossas prosaicas conversas, ele disse um dia que "o problema é que chega um momento que, conforme o tempo passa e envelhecemos, não se esquecem mais algumas coisas." como se se referisse às responsabilidades do adulto que não age mais tanto sem pensar e, logo, sem lembrar.
ângelo também é quem revisou minhas poesias e escritos antigos, me ajudando numa caseira curadoria daquilo que eu poderia requentar e levar adiante como escritora, e, mais ou menos assim, surgiu esse blog em que você está agora. se é que tem alguém aqui lendo. alguém além do ângelo, claro.
mas, para você que eu sei que está lendo, querido, caro, amigo e camarada ângelo: muito obrigada por existir e, apesar das distâncias, nunca estar distante. aprendo sobre envelhecer, sobre memória, e sobre amizade com você.
ah,
e feliz aniversário!
"agora, de novo, para o ângelo. 2021".